O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, anunciou a aplicação de tarifas expressivas sobre o aço e o alumínio brasileiros, gerando preocupações no setor industrial e abrindo um debate sobre as possíveis respostas do Brasil. A decisão, que afeta também outros segmentos, como o de madeira e derivados, pode prejudicar a balança comercial e comprometer a competitividade da indústria nacional.
Especialistas alertam para o efeito cascata que essa medida pode provocar no comércio bilateral, impactando não apenas os preços ao consumidor norte-americano, mas também a estrutura produtiva brasileira, que tem nos EUA um de seus principais mercados.
Consequências econômicas
A imposição de tarifas sobre o aço brasileiro representa um risco significativo para o setor siderúrgico nacional. Inicialmente, espera-se um aumento dos custos para as indústrias norte-americanas que dependem desse insumo, o que pode ser repassado aos consumidores. Ao mesmo tempo, a perda de competitividade das exportações brasileiras pode resultar em queda na produção e potencial redução de empregos no setor.
Possíveis estratégias para o Brasil
Diante desse cenário, analistas sugerem que o Brasil adote uma abordagem firme, mas cautelosa. Uma das opções avaliadas é a reciprocidade tarifária, embora essa medida possa intensificar tensões diplomáticas. Outra alternativa seria fortalecer parcerias com empresas norte-americanas que dependem do aço brasileiro, criando uma frente de apoio contra as tarifas.
“A formação de alianças com compradores nos EUA que podem ser impactados pelo aumento dos preços pode ser uma estratégia mais eficaz do que medidas retaliatórias”, aponta um especialista em comércio exterior.
Efeitos no longo prazo
Se mantidas, as tarifas podem elevar significativamente os custos para setores estratégicos nos EUA, como o automotivo e o da construção civil. Estudos indicam que restrições similares a importações do México e do Canadá poderiam aumentar os preços dos automóveis em até 40% nos Estados Unidos, afetando diretamente os consumidores.
Para o Brasil, o impacto pode se traduzir em desaceleração da indústria e redução de investimentos estrangeiros, agravando a instabilidade econômica do setor siderúrgico.
Diplomacia e comércio exterior
Embora existam pressões por retaliações diretas, especialistas recomendam uma combinação de diplomacia e ações comerciais inteligentes. As relações entre Brasil e EUA historicamente foram marcadas por cooperação, mas a política comercial da administração Trump introduz desafios imprevisíveis.
Nesse contexto, a diversificação de mercados e o fortalecimento de parcerias internacionais surgem como estratégias fundamentais para reduzir a dependência das exportações brasileiras em relação aos Estados Unidos.
Nos últimos anos, as relações comerciais entre Brasil, EUA e China foram marcadas por disputas e negociações intensas. Agora, a indústria siderúrgica norte-americana volta sua atenção ao Brasil, alegando que o país concede subsídios excessivos ao setor.
A Steel Manufacturers Association (SMA), entidade que representa os fabricantes de aço dos EUA, enviou uma carta à Casa Branca afirmando que o Brasil pratica políticas comerciais desleais. O documento foi encaminhado ao Escritório de Representação Comercial dos EUA (USTR) como parte de uma consulta pública sobre a concorrência global no setor siderúrgico.
Principais alegações
No documento, o presidente da SMA, Philip Bell, destaca que o Brasil tem capacidade instalada para produzir 50,9 milhões de toneladas de aço, mas utilizou apenas 31,8 milhões de toneladas em 2023. Apesar dessa ociosidade, o setor anunciou investimentos de R$ 100 bilhões para expansão, o que gerou preocupações na indústria americana.
A SMA também ressalta que os EUA importam grandes volumes de aço semiacabado do Brasil, essencial para setores como construção, automóveis e infraestrutura. Dados da entidade indicam que, em 2024, 70% das placas de aço importadas pelos EUA tiveram origem no Brasil.
Outro ponto citado na denúncia é o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que oferece linhas de crédito como o Finame – Baixo Carbono, voltadas para modernização da indústria. Segundo a SMA, esses incentivos garantem ao Brasil uma vantagem competitiva que distorce o mercado internacional.
Impactos nas relações Brasil-EUA
O aumento da pressão da indústria siderúrgica americana ocorre em um momento de crescente protecionismo nos Estados Unidos, que já aplicam tarifas de 25% sobre o aço importado. Caso novas barreiras sejam adotadas, as exportações brasileiras poderão sofrer ainda mais restrições.
O governo brasileiro, por sua vez, defende que suas políticas de incentivo visam fortalecer a economia e gerar empregos, sem infringir regras do comércio global. No entanto, o embate com os EUA evidencia os desafios enfrentados pelo setor siderúrgico nacional e reforça a necessidade de estratégias para manter sua competitividade no mercado internacional.
Fonte: Infomet
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 18/03/2025