Brasil e EUA discutem revisão de cotas para aço – 09/02/2022

9 de fevereiro de 2022

O Brasil iniciou discussões com os EUA visando obter a revisão das cotas que limitam a entrada do aço nacional no mercado americano. As restrições foram impostas em 2018 durante o governo de Donald Trump, apesar da afinidade ideológica com o governo de Jair Bolsonaro.

O Valor apurou que representantes brasileiros vêm conversando com interlocutores especialmente no USTR (US Trade Representative, a agência que faz negociações comerciais), Departamento de Comércio e Departamento de Estado.

Indagado sobre o tema, o secretário de Comércio Exterior e de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Sarquis J. B. Sarquis, afirmou estar “atentos aos desdobramentos dos acordos dos EUA com a UE e com o Japão (anunciado ontem), bem como com outros parceiros, como o Reino Unido, com vistas à flexibilização das restrições da Seção 232 às importações de aço dos EUA”.

Segundo ele, o Brasil tem intensificado gestões, “recordando ao EUA que somos importante parceiro no setor siderúrgico, em virtude dos fortes vínculos e complementaridades entre as cadeias de produtivas dos dois países”.

De US$ 2,3 bilhões de aço que o Brasil exporta para os EUA por ano em média, 85% é de semi-acabado, ou seja, matéria-prima para as siderúrgicas americanas fazerem o produto final. O país é de longe o maior fornecedor para os EUA nessa categoria, com 60% do total importado pelos americanos em 2020, seguido por México com 23,3% e Rússia com 5,77%.

Em 2018, no meio das tensões comerciais com a China, Trump decidiu que a que o aço estrangeiro “ameaça[va] debilitar a segurança nacional” e impôs taxa adicional de 25% na importação de produtos siderúrgicos e de 10% na importação de alumínio, provocando enorme irritação de aliados de Washington que viram a medida como retaliação.

Já sob a presidência de Joe Biden, em outubro do ano passado os EUA e a União Europeia fecharam acordo pelo qual Washington manteve as tarifas adicionais, mas isentou uma certa quantidade, permitindo às companhias europeias voltar a vender um certo volume dito histórico por uma cota.

Nesta semana, os EUA anunciaram acordo com o Japão, outro grande aliado, pelo qual vão eliminar a partir de abril as tarifas dentro de uma cota de importação de 1,25 milhão de toneladas de aço japonês – volume ainda inferior a 1,8 milhão de toneladas exportadas pelo Japão em 2018.

“Esse acordo vai reforçar a indústria siderúrgica americana e vai garantir que sua mão de obra permaneça competitiva, ao mesmo tempo oferecendo um melhor acesso a aço menos caro’’, afirmou a secretária de Comércio, Gina Raimondo.

O acordo requer do Japão medidas concretas para lutar contra o excesso global na capacidade de produção de aço que tem visado principalmente a China.

O Brasil justamente amplia seu papel neste ano na governança e sustentabilidade do comércio global de aço. O país co-presidirá com a Alemanha o Fórum Global sobre Excesso de Capacidade de Aço (GFSEC), principal mecanismo internacional para promover a transparência e coordenação para a mitigação desse excesso.

Os temas principais do foro que reúne países interessados no tema, incluindo EUA, Japão e UE, são redução efetiva de subsídios distorcivos e excesso de capacidade, além de transição para indústria de baixo carbono. “O Brasil se posiciona bem em todas essas frentes e continuará a atuar em prol dos interesses brasileiros no setor, em complemento com as ações bilaterais e em foros como OMC e G20”, disse o subsecretário.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 09/02/2022

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