Empresas acompanham queda do dólar com cautela

23 de abril de 2014

A valorização do real frente ao dólar nas últimas semanas, invertendo levemente a tendência de desvalorização mais acentuada que vinha ocorrendo, colocou os exportadores em compasso de espera. Na dúvida sobre qual o rumo da taxa de câmbio daqui para frente, algumas empresas estudam rever preços e planos de expansão de exportação que foram definidos quando o dólar estava mais forte.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que os exportadores de manufaturados já começam a revisar os preços praticados. O produto embarcado agora, diz ele, teve preço negociado há cerca de três ou quatro meses, quando o patamar de câmbio era outro. Mas ressalta que o impacto da valorização do real vai depender do que o exportador fez. ‘Ele pode ter adiantado o contrato de câmbio, ou pode ter optado por fazer a conversão em reais depois, já que havia expectativa de subida para o dólar.’ Castro lembra que o exportador não é obrigado a fazer o câmbio imediatamente após o embarque, mas o problema é o fluxo de caixa em reais.

‘Estou observando o mercado’, diz Edgard Dutra, diretor comercial da Metalplan, do setor de bens de capital. Em 2012, os embarques da empresa praticamente dobraram em relação ao ano anterior, disse. No ano passado, a expectativa era de elevação de 30% em relação a 2012. O aumento, porém, ficou em 5% ‘O problema foi a Argentina, com as medidas restritivas à importação. O país é o nosso maior mercado de exportação.’

Como estratégia para abrir novos mercados externos, a Metalplan traçou um plano de expansão de exportação tendo como alvos Peru e Colômbia. ‘Com um preço definido com dólar perto de R$ 2,40 e expectativa de alta para R$ 2,60 no decorrer de 2014, demos descontos e, com preços mais competitivos voltamos a atrair clientes’, diz Dutra. Com a mudança no patamar de câmbio, porém, a empresa pode ser obrigada a rever os planos. ‘Não sei se conseguirei manter os preços e se terei preços competitivos para exportar mais’, afirma.

De forma geral, a desvalorização do real frente ao dólar, sobretudo no decorrer de 2013, permitiu preços mais competitivos para a exportação da indústria de calçados. O receio da volatilidade, tanto do câmbio quanto do comportamento dos mercados, porém, impede redução maior de preços e programação de médio e longo prazos, segundo Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados).

Para Klein, um dólar próximo a R$ 2,20 está dentro da banda de volatilidade prevista pela média dos calçadistas, mas o patamar acende uma luz amarela. Abaixo dessa cotação, diz, fica comprometida a elevação de volume de exportação e o ganho de mercado. Segundos dados preliminares da Abicalçados, as exportações de calçados no primeiro trimestre chegaram a US$ 275 milhões, resultado 2,2% inferior ao registro do mesmo período do ano passado (US$ 281,1 milhões).

No primeiro bimestre do ano, os principais mercados foram Estados Unidos (US$ 29,6 milhões, queda de 9%), França (US$ 15,67 milhões, queda de 3,1%) e Rússia (US$ 12 milhões, queda de 24,8%). A Argentina, que até o ano passado era o segundo principal destino do calçado nacional, caiu para a sexta posição, com queda de 35% em dólares (de US$ 16,26 milhões para US$ 10,56 milhões).

A valorização recente do real frente ao dólar gera dúvidas para a comercialização da próxima coleção. Anderson Melo, gestor de exportação da Democrata, conta que no primeiro trimestre deste ano a empresa conseguiu elevar em 20% a quantidade de pares exportados, na comparação com mesmo período do ano passado. Em 2013, a elevação foi de 13% contra o ano anterior. Com a recente valorização da moeda nacional, diz Melo, a empresa pode perder parte da flexibilidade na negociação de preços. Segundo ele, a comercialização da coleção primavera/verão, que começa em maio, deverá levar em conta eventual mudança na composição de custos ou no câmbio.

Reinaldo Maykot, vice-presidente de vendas e marketing da Embraco, explica que até fevereiro houve ‘estímulo elevado’ para exportação, mas no fim de março houve uma mudança no cenário, porque o câmbio mostrou um sentido contrário, com a valorização do real.

‘Mas ainda assim é um câmbio que segue favorecendo a exportação’, afirmou. Maykot, no entanto, destaca que mais do que o patamar do câmbio, as exportações dependem do aquecimento, ou não, de economias internacionais, e esse é um cenário difícil, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

O presidente da Tupy, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, explica que a desvalorização cambial experimentada ao longo de 2013 e nos três primeiros meses de 2014, que trouxe o dólar para o R$ 2,30, beneficiou a empresa, porque 67% das suas receitas vêm do mercado externo. Segundo ele, o dólar a R$ 2,20 acaba, portanto, tendo efeitos negativos sobre a receita em moeda estrangeira, mas ressalta que a expansão geográfica da empresa e a diversificação de setores de atuação poderão ajudá-la nesse período.

A WEG não revela as metas de exportação de 2014, mas Harry Schmelzer Jr., presidente da empresa, diz que não há revisão de preços a partir da valorização mais recente. ‘O preço dos nossos produtos é o mercado que dita. O fato de o dólar cair não significa que o preço será alterado, porque lá nos Estados Unidos, para outros fabricantes, nada mudou. Eu concorro com quem fabrica lá. Na China também nada mudou. Tenho que ser competitivo com o preço que está ali.’

Fonte: Valor
Seção: Economia
Publicação: 23/04/2014

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