Mesmo sob pressão do aço chinês, a Aço Verde do Brasil cresce em 2024 – 24/03/2025.

24 de março de 2025

Apesar de um cenário preocupante para o setor siderúrgico no Brasil com a entrada de aço chinês e novas tarifas impostas pelo governo americano, a siderúrgica brasileira Aço Verde do Brasil (AVB) encerrou 2024 com crescimento nas vendas e na receita líquida, segundo o relatório anual divulgado pela empresa nesta sexta-feira (21).

Ao Valor, a presidente da empresa, Silvia Nascimento, e o diretor financeiro e de relações com investidores, Gustavo Rozenbaum Bcheche, frisam que a companhia conseguiu crescer em meio a um ambiente de preços deprimidos e concorrência agressiva do aço chinês.

Apesar da pressão externa, a AVB manteve um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 558,4 milhões, com margem de 30,3%, e encerrou o ano com lucro líquido de R$ 234,8 milhões, elevação de 15,9% em relação a 2023.

A concorrência com o aço chinês — mais barato, subsidiado e com excedente de produção — tem sido um dos principais desafios para as siderúrgicas brasileiras. Os executivos frisam que a empresa tem buscado mitigar os impactos com investimentos em produtividade e sustentabilidade, mas o excesso de oferta asiática é sentido nos resultados operacionais.

“Tivemos um ano de 2024 muito mais desafiador do que o planejado, apesar disso, buscamos produtividade e efetividade na redução de custos e melhoria na utilização de resíduos, o que resultou em um ano que fechou com um resultado melhor do que 2023”, disse Bcheche.

Cautela para 2025

Se por um lado a AVB se destacou por melhorias na operação, por outro enfrenta uma batalha comercial que vai além de suas fronteiras — e cujos desdobramentos, inclusive políticos, podem afetar diretamente seu desempenho e o do setor em 2025.

O executivo acrescenta que o sistema híbrido de cotas e tarifa implementado em junho pelo governo para conter a “invasão” do aço chinês e proteger as siderúrgicas locais não surtiu o efeito esperado, já que há fugas geográficas, com materiais da China que passam antes por outros países.

Se o setor de obras de infraestrutura segue com crescimento muito lento, o segmento de construção civil tem expectativa de demanda maior por conta de projetos, como o programa Minha Casa, Minha Vida, que deve desaguar numa maior concorrência entre as empresas

“O ano de 2025 será muito parecido com 2024 e a construção civil continua segurando a demanda. O desafio é o aço importado. O nosso aliado é o dólar em alta, que, acima de R$ 5,60 o ano inteiro, é inibidor do aço importado. Esperamos que o governo brasileiro enxergue de uma maneira mais objetiva que existe uma guerra comercial mundial”, diz Nascimento.

Nos bastidores do setor, há pressão para que o Brasil implemente novas ações protecionistas que possam ajudar a conter essa avalanche de aço importado. O governo brasileiro já sinalizou discussões sobre medidas antidumping, mas o ritmo lento dessas iniciativas preocupa o setor.

A empresa viu um aumento de 6,8% na receita líquida, que fechou o ano em R$ 1,84 bilhão, desempenho sustentado pelo aumento no volume de vendas de laminados e semiacabados, que cresceu 10,7%.

Embora a AVB concentre suas vendas no mercado interno, um movimento protecionista americano, com nova imposição de tarifas sobre o aço pelo presidente dos EUA, Donald Trump, pode redirecionar excedentes globais de aço para mercados como o Brasil, aumentando ainda mais a competição local.

A empresa captou, no ano passado, R$ 200 milhões por meio da emissão de debêntures verdes. Parte destes recursos será usado para conclusão da fábrica de oxigênio entre setembro e outubro de 2025. A expectativa é que a empresa triplique o volume do gás que utiliza na produção.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 24/03/2025

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