Presidente do conselho da Gerdau vê risco de o Brasil ficar estagnado – 16/05/2023.

16 de maio de 2023

Há três anos como presidente do conselho de administração da Gerdau, em rodízio com os primos, Guilherme Chagas Gerdau Johannpeter, 51 anos, pegou mais de dois anos de bonança nos resultados da companhia. Segundo da quinta geração da família a presidir o conselho do conglomerado de 122 anos, encerrou o ano passado com uma receita líquida recorde, superior a R$ 82 bilhões.

A maior base das operações da Gerdau está no Brasil, mas é na América do Norte que o grupo vive a melhor performance. “Lá temos as melhores margens do mercado. Não somos o maior, mas estamos entre os melhores da região”, diz o empresário, que se declara chairman-executivo, com dedicação integral à Gerdau.

Em entrevista ao Valor, o empresário demonstra várias preocupações, em especial com o Brasil. “Vejo incapacidade de crescimento do país, podendo ficar para trás, e dificuldade em dar continuidade a políticas públicas que dão certo”. Ele cita a lei de competitividade do gás, a do saneamento e a lei das estatais. E aponta as dificuldades em se aprovar a reforma tributária e outras necessárias ao país que não avançam “Isso gera um ambiente de incertezas para os negócios”.

“Já está na hora de redução dos juros, pois há sinais de baixa da inflação”
— Guilherme Gerdau

Para Guilherme, o Estado brasileiro esgotou a capacidade de investir. Por isso, tem criar ambiente regulatório sólido para estimular o setor privado a investir mais. “A União [governo] também é um agente importante, mas tem de aliar sua baixa capacidade de investir. Principalmente, infraestrutura, se não paramos de crescer”.

O empresário observa que o agronegócio é forte no país, apesar de tudo, mas questiona a paralisação da indústria. “Será que não é também um grande motor de crescimento. O setor industrial está perdendo relevância no Brasil”.

Para ele, provavelmente a reforma tributária seja a maior alavanca para a retomada do vigor do setor industrial. Ele cita que há um impacto de 6% a 7% de resíduo tributário na exportação. “A reforma acaba com isso e outros entraves”. O Iedi [Instituto de Desenvolvimento Industrial], do qual é membro, afirma, vem batendo forte nessa questão.

Outro ponto que o empresário da Gerdau vê como um problema no Brasil é o custo de capital. “É proibitivo para investimentos, até mesmo em empresas médias e grandes. Não há disponibilidade de financiamento de curto prazo. E o que há é muito caro”.

Questionado sobre a taxa básica de juro [Selic de 13,75%], Guilherme avalia que o Brasil sempre foi um país de juro real alto. Como entender? Para ele, o caminho é ter uma política fiscal – vê com otimismo o plano do arcabouço fiscal -, ambiente regulatório estável e a questão tributária. “Já vejo sinais de baixa da inflação, o que abre uma janela para a redução da taxa de juros no país. Já está na hora de descer”, afirma.

Globalmente, ele diz que se preocupa com a China, sobre a perspectiva do crescimento da economia do país e da sua força na indústria siderúrgica – mais da metade do aço que se faz no mundo. “O que acontece na China impacta o mundo”.

A Europa vive seus problemas, agravados pela guerra na Ucrânia. Os EUA, apesar da inflação, da quebra de bancos, continua a ser um ambiente positivo. “A America do Norte já é maior que o Brasil [nos negócios do grupo]”, diz.

O empresário vislumbra muitas oportunidade para a Gerdau, que concentrou sua atuação nas Américas após um período de quatro anos de reestruturação e reorganização. Saiu de alguns países e vendeu ativos e operações que considerou com baixa rentabilidade. “Ajustamos e desalavancamos a companhia, porque o nosso o ambiente de negócio é cíclico. Hoje com balanço mais forte, temos capacidade de crescer quando os mercados voltarem a crescer”.

As oportunidades, aponta, passam por energias renováveis, infraestrutura (“uma alavanca para o crescimento”), transição energética, eletrificação (“exige aços mais limpos, mais leves e com conteúdo tecnológico), o avanço das construtechs. “Em tudo isso há uso intensivo do aço”.

Há espaço no Brasil e em vários mercados, ressalta. Para poder atender essas oportunidades que surgem a Gerdau está investindo R$ 5 bilhões apenas neste ano em modernização e expansão de diversas de suas 32 unidades siderúrgicas espalhadas nas Américas.

A empresa está entre as líderes mundiais em aço especial, que tem 80% de aplicação no setor automotivo (veículos pesados) e os 20% em outras aplicações, como energia renovável. Opera duas usinas no Brasil e duas nos EUA. “É um segmento muito difícil de competir, pois enfrenta importação de muita autopeça pronta”.

A Gerdau Next, que nasceu como vice-presidência de novos negócios, vai se tornar a quinta unidade operacional do grupo, como gestora e investidora de ativos. Em pouco mais de três anos já são 13 ativos, espalhados nos ramos de construtech, mobilidade/logística digital, sustentabilidade e tecnologia. São negócios que vão desde fundações de prédios até geração de energia e produção de grafeno.

A descarbonização – redução das emissões de gases de efeito estufa – é uma prioridade na Gerdau, diz o empresário. O plano é baixar a 0,83 tonelada de CO2 por tonelada de aço em 2031. “A tendência no mundo é de migração do alto-forno para tecnologias de redução direta (que corta emissões), com uso de gás e de hidrogênio verde no futuro. Poucos altos-fornos vão ser construídos”.

Guilherme vê o Brasil como um potencial grande produtor de hidrogênio verde, pois dispõe de energia renovável (hidrelétrica, eólica e solar), porém tem o entrave de ter um custo de capital que dá menos competitividade. “É preciso, além de custo, escala”.

A Gerdau, afirma o chairman, chegou aos 122 anos com balanço sólido e muita capacidade de voltar a investir. A alavancagem da empresa, ao final de 2022 era de 0,33 vez na relação dívida líquida sobre o Ebitda e endividamento líquido de R$ 6,43 bilhões ao final do primeiro trimestre.

“Não estamos impedidos de fazer aquisições, mas temos muita disciplina nas compras. Elas têm de fazer muito sentido, com retorno ao acionista dentro do padrão estipulado pelo grupo”, diz.

Guilherme assumiu a presidência do conselho da Gerdau, substituindo o primo Cláudio Gerdau Johannpeter, no momento em que a pandemia de covid-19 se alastrava mundo afora.

Antes disso, passou por várias funções no grupo: gerente geral de aço para indústria (arames) e líder da área de aço para construção no Brasil, ficou oito anos na America do Norte, onde foi diretor comercial e presidente do negócio Aços Longos. Também presidiu a divisão de Aços Especiais.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 16/05/2023

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