Siderúrgica carbono neutro, Aço Verde do Brasil mira IPO ou novo sócio para dobrar de tamanho – 05/03/2024.

5 de março de 2024

Última fabricante de aço a estrear no mercado brasileiro, em julho de 2018, a Aço Verde do Brasil (AVB) busca caminhos para manter o crescimento. A meta, neste momento, é elevar a ocupação da capacidade anual de produção da empresa, hoje de 600 mil toneladas, ao mesmo tempo que estuda um plano estratégico para dobrar de tamanho.

Estão em estudos vários caminhos, segundo a CEO Silvia Nascimento, que também é acionista. Com a assessoria do banco UBS-BB, contratado em meados do ano passado, o plano inclui um possível IPO (oferta inicial de ações), na hora mais propícia do mercado; a entrada de um investidor financeiro ou estratégico (também produtor de aço) no capital da AVB ou mesmo outra estrutura financeira que dê sustentação para a empresa crescer sem comprometer seu perfil de dívida, atualmente bem confortável.

Com receita anual na casa dos R$ 2 bilhões, a siderúrgica é hoje 100% controlada pela família Nascimento, de Belo Horizonte, e já inicia a preparação dos herdeiros da terceira geração. Ricardo Nascimento, patriarca e também dono do Grupo Ferroeste, é presidente do conselho. Silvia, o irmão (também Ricardo) e a irmã Laura são membros da família no colegiado.

Em entrevista exclusiva ao IM Business em uma de suas visitas a São Paulo, a CEO disse que o foco da siderúrgica é ganhar mais participação em mercados como o Nordeste e continuar desenvolvendo produtos sob encomenda para clientes que atuam tanto na construção civil e imobiliária quanto na área industrial.

Fora isso, também persegue o compromisso de manter o selo de “carbono neutro”, que obteve em 2018, em auditoria da consultoria francesa Société Générale de Surveillance (SGS) e reconhecido pela World Steel Association (WSA). “Somos a primeira siderúrgica do mundo a produzir aços longos no conceito sustentável”, afirma.

Foco na sustentabilidade

A AVB produz ferro-gusa, tarugos de aço, vergalhões (em rolo e em barras), fio-máquina, gases industriais (oxigênio) e gera energia em sua planta siderúrgica localizada em Açailândia (MA), que foi concluída em 2015, após quase uma década de dificuldades. Desde a cidade maranhense, às margens da Estrada de Ferro Carajás, da Vale, a  companhia atinge clientes do Norte ao Sul do país.

Nos seus dois altos-fornos, ao invés de carvão metalúrgico, fonte de geração de CO2,  a AVB usa biocarbono – carvão vegetal produzido com eucalipto de florestas próprias. O índice de emissão de CO2 da siderúrgica, certificado no começo de cada ano, foi de 0,02 tonelada de CO2 para cada tonelada de aço fabricada em 2022. Até abril devem sair os números de 2023. Embora ainda não seja reconhecido no mercado em termos de valor do produto, a produção sustentável já permitiu uma redução de custo em financiamentos em alguns bancos, diz Silvia.

Além disso, todos os gases gerados nas linhas de produção da AVB são recuperados em circuito fechado na usina e usados nas operações e vão também para a termoelétrica, inaugurada em 2023.

Aço importado da China, por exemplo, normalmente é fabricado a partir de fontes “sujas” de energia – como carvão mineral. Lá , esse tipo de energia responde por 75%. “Estamos, dessa forma, importando carbono. Isso deveria ser considerado pelo governo brasileiro, quando se discute no país políticas de descarbonização da indústria”, afirma. “Não é justo comparar um aço no Brasil, que usa energia renovável, com aço feito a partir de energia ‘suja’”.

Concorrência acirrada

No mercado nacional, a siderúrgica dos Nascimento é pequena comparada às gigantes de aços longos ArcelorMittal e Gerdau. Mas chega a incomodar, porque se coloca no mercado como alternativa. A AVB concorre ainda com Simec, grupo mexicano que estreou no país em 2015 e se tornou o terceiro no ranking, e com a Sinobras, também do Norte, com usina em Marabá (PA). Com baixa participação há ainda a CSN.

A empresa não pretende se endividar para “crescer por crescer”.  “Primeiro, vamos ocupar mais a nossa capacidade atual. Já chegamos a quase 70% e em 2024 poderá atingir 480 mil toneladas (80%). Quando estivermos na faixa de 550 mil será a  hora de decidir o passo seguinte”. Uma alternativa é passar a capacidade atual a 850 mil toneladas, com investimentos adicionais nos atuais equipamentos.

Silvia afirma que em 2024 o foco é ocupar mais fatias no Nordeste. “Hoje, mais de 50% do nosso faturamento vem do Sul e Sudeste e vemos no Nordeste uma região com perspectivas de crescimento”, diz. Por isso, está abrindo uma base comercial em Recife. Outro foco é desenvolver mais produtos sob encomenda de clientes – no ano passado foram 124 e em 2002 um total de 103. “Nossa unidade industrial [altos-fornos, aciaria e laminação] é muito flexível, e isso nos dá muita agilidade”, destaca.

A empresária se diz otimista com a economia do país em 2024, com expectativa de PIB na casa de 2% a 3% – mas ressalva que ainda será um ano difícil devido à pressão do aço importado. O objetivo da siderúrgica é crescer ao menos 15% em vendas em 2024 sobre o volume do ano passado, que será divulgado no balanço do quarto trimestre e de 2023 no dia 20 de março. Do lado dos custos, passará a utilizar de 15% a 18% de minério de ferro próprio do total da matéria-prima que consome.

Este ano vai ser também o primeiro de operação plena da termelétrica, que teve investimento de R$ 80 milhões, e da planta de briquetes (que compacta material residual sólido da usina e reutiliza nos altos-fornos). O volume representará 10% da carga de matérias-primas. “É mais um ganho de custo que teremos”, diz Sílvia. A empresa prevê ainda concluir sua segunda fábrica de oxigênio, insumo crucial nos processos de produção da usina, em 2025. É o maior investimento em curso, de R$ 120 milhões.

A AVB tem perfil financeiro confortável: a empresa tinha R$ 703 milhões em caixa em 30 de setembro de 2023, para uma dívida bruta de quase R$ 1,2 bilhão. Com isso, sua alavancagem financeira era de 0,8 vez na relação  dívida líquida sobre Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Nos noves meses, as vendas somaram 305,7 mil toneladas de produtos (alta de 18,5% ao se comparar com igual período de 2022), com receita de R$ 1,32 bilhão (menos 8%). O resultado líquido recuou 34%, para R$ 293 milhões, devido à queda de preços do aço no mercado local. Em 2022,  a receita líquida da empresa foi de R$ 1,89 bilhão e o lucro de R$ 542 milhões.

Fonte: Infomoney
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 05/03/2024

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