Terremotos na Turquia atingem negócios na siderurgia mundial – 17/02/2023.

17 de fevereiro de 2023

Os terremotos que devastaram partes da Turquia e da Síria na semana passada (dia 6) causaram pesados danos diretos e colaterais na indústria siderúrgica do país. A Turquia, que ocupa o oitavo lugar no ranking mundial de aço, é o maior importador de sucata ferrosa do mundo e relevante exportador de aços longos, como vergalhões, usados na construção.

De acordo com as últimas informações, o desastre já causou morte de mais de 42 mil pessoas nos dois países, deixando mais de 114 mil feridos e cerca de 2,4 milhões de pessoas desalojadas. Estima-se 6,5 mil edifícios foram destruídos, com danos à propriedades entre US$ 50 bilhões e US$ 85 bilhões.

País exporta cerca de 17 milhões de toneladas de aço acabado ao ano, sendo 70% de vergalhão, inclusive para o Brasil

As operações das siderúrgicas locais foram afetadas por problemas na infraestrutura. “Não se tem notícias que as siderúrgicas tenham sido impactadas fisicamente, mas o sistema logístico (portos e vias de transporte) e o fornecimento de energia elétrica e gás natural foram afetados”, informa Germano Mendes de Paula, especialista no setor e professor titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Segundo ele avalia, a siderurgia turca tem algumas importantes particularidades, que tendem a gerar alguns desequilíbrios no mercado global de insumos e produtos siderúrgicos. É a maior importadora mundial de sucata ferrosa – 24 milhões de toneladas em 2021 (24,5% do mundo) e 21 milhões de toneladas no ano passado. Desse total, 19% foram provenientes dos Estados Unidos.

“Estima-se que cerca de 30% da capacidade instalada da siderurgia turca tenha sido paralisada. E, nas regiões atingidas, a produção é fortemente concentrada em aços longos (destaque para vergalhões)”, diz. A expectativa é que as operações fiquem paralisadas durante o restante de fevereiro, e até avancem para março.

A Turquia produziu 35 milhões de toneladas de aço bruto no ano passado, sendo 10,5 milhões da maior produtora integrada de aços longos e planos do país, a Iskenderun Demir ve Celik (Isdemir), que fica a 180 km do epicentro do terremoto. A empresa suspendeu sua produção no sudeste, região atingida, segundo informou a própria companhia nesta semana.

Informações de fontes do setor disseram a agências de notícias especializadas que os efeitos na siderurgia turca devem resultar em preço da sucata de aço mais fraco no curto prazo devido à forte posição como importador. Por outro lado, os preços globais de vergalhão devem subir, pois a Turquia exporta cerca de 17 milhões de toneladas por ano de aço acabado, sendo mais de 70% desse produto. Cerca de 60% vai para a União Europeia e o Brasil também importa. Outro efeito: redução nas exportações de vergalhão no médio prazo em decorrência da reconstrução da zona de desastre, levando a uma forte reposição de estoque desse tipo de aço a partir do segundo trimestre. O país deve acelerar a reconstrução porque estão previstas eleições em maio e junho.

Clineu Alvarenga, presidente do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), que representa recicladores de aço e outros metais, disse ao Valor que os preços da sucata já sofrem queda de até US$ 10 a tonelada no mercado mundial. “No nosso caso, que não exportamos para a Turquia, o impacto ocorre na Ásia, para onde embarcamos 90% das exportações. Haverá um desvio para este mercado com a retração nas compras pelas usinas de aço turcas”. As exportações de sucata, diz, com certeza, serão afetadas em função dos problemas econômicos decorrentes do terremoto.

A Turquia, informa Mendes de Paula, é um grande importador de ferro-gusa – 1,3 milhão de toneladas em 2022, sendo 66% da Rússia e 20% do Brasil. Isso significa impacto nas vendas dessa matéria-prima por produtores brasileiros. O país compra ainda placas e tarugos (semiacabados), num total de 4,9 milhões em 2022 – 71% oriundos da Rússia, que enfrentou dificuldades para exportar devido à guerra na Ucrânia. O Brasil é um produtor relevante.

Em relatório, o analista do Itaú BBA, Daniel Sasson, destacou que, como maior exportador global de vergalhão, a interrupção da produção de aço e/ou atrasos nos embarques na Turquia podem sustentar os preços globais mais altos do vergalhão e reduzir as vendas de sucata dos EUA para o país, potencialmente baixando os preços da sucata no mercado americano. “Ambos os impactos podem beneficiar levemente a dinâmica operacional da Gerdau [nos EUA]”, disse.

O epicentro do terremoto, informou, está próximo à região do Mediterrâneo, que responde por cerca de 33% da capacidade instalada de produção de aço do país.

Segundo Mendes de Paula, a queda da produção siderúrgica na Turquia – de 40 milhões para 35 milhões de toneladas – foi atribuída principalmente ao aumento do custo de energia elétrica. Antes do terremoto, a expectativa da Associação Siderúrgica Turca (TCUD) era voltar a produção para o patamar de 40 milhões de toneladas em 2023.

Mesmo assim, o país é o maior exportador mundial de vergalhões: 7,4 milhões de toneladas em 2021 e 5,6 milhões no ano passado. Por isso, o preço de venda é uma das principais referências para a precificação de vergalhão em vários países, inclusive no Brasil. “As exportações de vergalhão também estão paralisadas. Isso tenderia a gerar, no curto prazo, uma tendência altista dos preços mundiais do vergalhão, inclusive no Brasil”, afirma.

Para o especialista, as repercussões do terremoto na siderurgia tendem a extrapolar consideravelmente as fronteiras da Turquia.

Fonte: Valor
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 17/02/2023

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