Preço do ferro-gusa dispara com guerra – 28/03/2022

28 de março de 2022

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia continua fazendo estragos na economia mundial, em especial nos setores que possuem commodities, que têm seu preço determinado pela oferta e procura internacional, entre as matérias-primas. A indústria da fundição, por exemplo, que tem enfrentado sucessivos aumentos no preço do ferro-gusa, acaba de receber mais um, agora de 60%, que vem a se somar aos reajustes de  41,6% praticados em janeiro e fevereiro.

A Associação Brasileira de Fundição (Abifa) e o Sindicato da Indústria da Fundição no Estado de Minas Gerais (Sifumg) destacam que o impacto do reajuste do preço do insumo no custo industrial do setor gira em torno de 30% e alegam que a solução imediata passa pelo repasse dos preços. Mas alertam sobre a necessidade de uma política industrial que proteja o mercado doméstico.

De acordo com o presidente das entidades, Afonso Gonzaga, trata-se de uma questão de oferta e demanda. Ele lembra que Rússia, Ucrânia e Brasil são os maiores produtores mundiais de ferro-gusa e que os dois primeiros países eram responsáveis, por exemplo, pelo abastecimento de 80% da Europa. Mas, como estão em guerra, resta ao Brasil atender todo o mercado com seu produto.

“Entendemos a dinâmica de mercado da lei de oferta e procura, mas como país, precisamos salvaguardar a indústria de transformação brasileira, responsável pela geração de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) e 20% dos empregos formais. Se por um lado é uma oportunidade para os produtores brasileiros, por outro, impacta profundamente a indústria nacional. Por isso, precisamos de uma política industrial que proteja o mercado interno”, afirma.

Segundo ele, as associadas acabam de ser notificadas do aumento de 60% dos preços do ferro-gusa. Este percentual vem a se somar aos 41,6% de aumentos já praticados em janeiro e fevereiro. E, em vistas de se evitar uma reação em cadeia, a orientação é de repasse destes custos. “Reajustar contratos é um processo longo, mas não temos tempo. A fundição não trabalha com estoques. A única saída é o diálogo entre fornecedores e clientes. É necessária a compreensão daqueles que precisam do produto fundido de que, daqui pra frente, teremos novos preços”, diz.

A reportagem tentou contato com o Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer-MG) para falar sobre o aumento do preço do gusa, mas não obteve sucesso. Há duas semanas, o presidente do sindicato, Fausto Varela Cançado, atribuiu o aumento às sanções dos Estados Unidos contra a Rússia.

Vale dizer que, em Minas, 25% da produção de ferro-gusa vai para as fundiçõese o restante para as aciarias e mercado externo. Já o principal cliente do setor de fundição é a indústria automobilística, que consome 46% da produção. O Estado é o segundo maior fabricante de peças fundidas do Brasil, depois de São Paulo, respondendo por 25% da produção nacional. São 257 plantas em Minas, que ocupam 24 mil trabalhadores e produziram 670 mil toneladas em 2021.

Conforme publicado recentemente, a cadeia produtiva corre o risco de colapso, se o setor não conseguir repassar os custos. “O problema se chama repasse de custo industrial. Se não conseguirmos, não há como produzir”, disse Gonzaga ao DIÁRIO DO COMÉRCIO há duas semanas.

Incertezas

Por fim, o dirigente admite que é difícil prever como serão os próximos meses para o setor e que neste contexto de alta volatilidade, não dá para garantir que os preços voltarão ao nível de antes da guerra. Mas mantém o otimismo quanto ao desempenho da atividade, uma vez que a demanda segue aquecida e os parques fabris estão tomados. “A agroindústria segue puxando nosso crescimento e a expectativa ainda é de que haja um incremento entre 15% e 20% na produção em 2022”, conclui.

Fonte: Diário do Comércio
Seção: Siderurgia & Mineração
Publicação: 28/03/2022

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